Aprendizes de”feiticeiro”
Há uma regra que cedo aprendi na política: que o que está morto e enterrado não se ressuscita. É que, se ainda por cima, o fazemos de forma vil, o fantasma vira-se com certeza contra nós.
Quem me conhece, sabe que sou uma pessoa politicamente pacífica desde que, naturalmente, não me “pisem os calos”.
No entanto, fiquei a saber que um jovem candidato da Geração Madeira, num dos seus vídeos de candidatura, tenta passar uma imagem deturpada de um acontecimento protagonizado no meu último congresso da JSD, que aconteceu há cerca de cinco anos, passando a ideia de que foi muito corajoso por não ter concordado com a Sara André, por esta ter retirado a sua proposta de revisão de estatutos, revelando, supostamente assim, falta de consistência politica.
O que o Jovem José Pedro se esquece de dizer, ao colocar apenas um excerto do seu discurso, é que era muito fácil, na altura, não concordar com a Sara André, pois ela era a única voz dissonante da totalidade dominante (perdoem-me a redundância). Esquece-se, igualmente, de dizer que ele era um jovem que tudo fazia para agradar e era um cego seguidista dessa mesma corrente, o que deixou bem expresso na sua intervenção. E esquece-se de contextualizar o que aconteceu, para bem da verdade.
Nunca na história da JSD Madeira, foram utilizados discursos sem sequência que, descontextualizados, surgem claramente como ataques gratuitos a ex-militantes da JSD, com o único intuito da auto-promoção. O bom senso e uma certa deferência, que se adquire com o tempo, sempre prevaleceram em nome da dignidade política e do respeito mútuo.
Mas vamos aos factos dos acontecimentos de então. Apesar de me terem avisado no trajecto de barco para esse mesmo congresso, que se realizou no Porto Santo, que as indicações que os militantes tinham eram para chumbar qualquer proposta da Sara André. Não acreditei e fiz na mesma a minha apresentação. Para meu espanto, os avisos eram reais e queriam votar a proposta de alteração em bloco, dispensando qualquer discussão séria sobre a proposta, ponto a ponto. O jogo estava já viciado e, como não quis pactuar com o mesmo, não dei oportunidade de achincalharem um trabalho sério e com boas intenções. Retirei a proposta depois de a ter apresentado, e não me arrependo nem um segundo de o ter feito. Quem lá estava sabe da verdade.
Contudo, deste episódio, o que acho mais estranho é eu algumas pessoas tenham acesso a cópias das filmagens dos congressos da JSD, que não são públicas. São, aliás, registos internos que não deviam ser utilizados de forma abusiva. Inclusive, no passado, cheguei mesmo a pedir cópia apenas das minhas intervenções, para recordação, e tal me foi negado. Mas isso, cabe aos órgãos internos averiguar…
Por isso, quando me contaram o que se está a passar nem quis acreditar. Já não sou militante ou candidata na JSD. O meu nome, ao ser mencionado da forma que é, sem contexto, só posso entender isto como sendo um ataque gratuito e sem razão de ser. E isto numa altura em que o partido tem estado calmo internamente e unido, em torno de uma só luta de combate à política socialista que arruinou o nosso País.
Poderão os leitores questionar-se: “mas porque “raio” a Sara André vem a público com algo tão insignificante?” A resposta é simples. É uma questão de princípio. Não suporto aproveitamentos e gente que cultiva a inverdade. E são estas insignificâncias que minam e destroem a imagem dos políticos. E, quando os protagonistas são ainda jovens, e em vez de aprendizes de políticos, são aprendizes de “feiticeiros” e começam da pior maneira, o futuro dos partidos é pouco risonho, pois poderão ser eles os dirigentes do futuro.
A política deve ser uma actividade nobre, de serviço às populações, com debate sério de ideias e ideais. Estes são os meus princípios e aquilo em que acredito. Sei que não falo por todos, mas é por isto que me rejo. E sei que estes mesmos princípios torneiam a actividade de muita gente séria, que continuo a acreditar serem a maioria, em todos os partidos.
Poderia dizer tanta coisa sobre este candidato da Geração Madeira, até porque muito se diz em blogues, e existem imagens gravadas de certos momentos “altos” que teve, enquanto alto dirigente da Associação de Estudantes da Lusófona. Muito também se conta sobre a “rota do whisky” e da forma activa como “encantam” as actividades da JSD Madeira, mas não o vou fazer. Cabe a cada um dos militantes descobrir a verdade ou tomar consciência do que viram, e em perfeita liberdade de pensamento fazerem os seus respectivos julgamentos.
Uma nota final para afirmar que estranho igualmente, porque nem o partido o faz, que num momento de crise e de contenção financeira, e de necessidade de demonstrar austeridade como comportamento de exemplo, as apresentações desta candidatura estejam a ser feitas em espaços hoteleiros de luxo e com grande aparato propagandista. O Presidente do Partido tem pedido contenção e humildade a todos os militantes e dirigentes. O lado positivo é que fica demonstrado que ainda há empresas e particulares que, ao patrocinarem desta forma uma candidatura de uma estrutura partidária de juventude, têm muito dinheiro e muita sustentabilidade.
P.S- Escusam, com isto, de tentarem dizer que apoio o outro candidato. Só falei uma vez na vida com o jovem Ruben, numa conferência sobre associativismo. Desconheço o seu trabalho ou competência. Como já referi, estou fora da JSD Madeira há acerca de cinco anos e não tenho qualquer interesse em lideranças desta organização. Mas “às minhas costas ninguém vai para o céu”. Penso, de qualquer forma, que seria importante, como noutras organizações, quando não há acordo na sucessão, haver ainda mais listas para além das duas que já se assumiram. O objectivo seria permitir uma discussão saudável de ideias e ideais. A JSD Madeira tem excelentes quadros de jovens capazes. Tenham coragem e avancem. Pelo que se está a ver e perspectiva, a organização precisa claramente de vocês.
Artigo parcialmente publicado em suporte papel, e na integra na estrutura on line do Diário de Noticias da Madeira
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