A repentina solidariedade
Para além dos silêncios estratégicos, dignos de registo, têm sido muitas as reacções à notícia e ao editorial de ontem sobre o impedimento compulsivo dos social-democratas que habitualmente escreviam opinião no DIÁRIO.
Antes de mais importa deixar claro que temos provas, algumas das quais escritas, de tudo aquilo que escrevemos. Também temos a palavra da honra de alguns dos colaboradores social-democratas que, com toda a frontalidade e honestidade, avisaram antecipadamente que deixavam de partilhar a sua opinião nas páginas do DIÁRIO pelas razões que demos conta na edição de domingo. E desde ontem que temos a certeza que a verdade dos factos sempre incómoda tem envergonhado os protagonistas deste lamentável episódio, ao ponto dos “corajosos” do costume preferirem tentar enganar a opinião pública com as contradições em que são mestres do que explicar a causa do boicote, numa clara tentativa de afectar o pluralismo em vigor no nosso jornal.
Hoje, através da Agência Lusa, o vice-presidente o vice-presidente da Assembleia Legislativa da Madeira Miguel de Sousa garantiu que não recebeu "ordem" para deixar de colaborar no DIÁRIO por indicação do presidente do PSD-M, Alberto João Jardim, mas confirmou que deixaria de o fazer por "solidariedade" com o líder social-democrata. "É completamente falso que eu tenha recebido instrução ou ordem nesse sentido, mas vou deixar de escrever porque a solidariedade também é política", afirmou Miguel de Sousa.
Ora, esta repentina e mal explicada solidariedade deve-se a quê? Miguel de Sousa esqueceu-se de revelar que na manhã da passada sexta-feira, em resposta a uma questão por mim colocada, considerou preferível suspender a colaboração.
O e-mail que enviei a vários colaboradores afectos ao PSD-M foi este: “Tendo conhecimento de uma recente directiva imposta pelo Presidente do PSD-M e dado que a mesma já produziu os seus efeitos, afectando algumas colaborações nos espaços de opinião de articulistas assumidamente social-democratas; atendendo a que, da minha parte, não houve qualquer alteração de posicionamento em relação ao convite pessoal, feito em Outubro passado, para escrever opinião no DIÁRIO; julgando ainda que a frontalidade faz parte de uma democracia adulta...
Venho por este meio solicitar que manifeste por escrito nas próximas 48 horas se continuará ou não a colaborar com o DIÁRIO no espaço de opinião, nos moldes definidos aquando do convite”.
O também deputado social-democrata Medeiros Gaspar, ex-colunista deste jornal escusou-se a fazer comentários à Lusa dizendo apenas que este caso é "uma não noticia". E percebe-se porquê. Medeiros Gaspar foi o primeiro a deixar o painel de política do DIÁRIO. Fê-lo um dia depois da Comissão Política. Avisou-me que lhe fora dada a oportunidade de publicar opinião escrita com maior regularidade num outro meio de comunicação social. Deu conta do fim da sua colaboração assim, sem mais. E já publicou artigo no ‘JM’!
A deputada Sara André, por seu lado, afiançou à Lusa não ter recebido "qualquer indicação do presidente do partido, nem de outro membro mais ligado à Comissão Politica para deixar de escrever no DIÁRIO". Acreditámos. Aliás, fomos os primeiros a alertar a parlamentar para a decisão de Jardim, o que diz bem da estranha solidariedade social-democrata. Questionei-a se, mesmo assim, continuaria ou não a ser nossa colaboradora. Assumiu que não e que até desejava suspender a opinião até Outubro pois vai ser mãe em breve. Por isso, não espanta que também à Lusa admita que deixe de ser colaboradora “dada a solidariedade dos meus outros colegas para com o presidente do partido e também por razões pessoais".
Jardim também teve a ousadia de negar o que transmitiu na Comissão Política. A frase é sintomática: “Não tenho força, nem autoridade, nem inconsciência para proibir alguém de escrever seja onde for mas também não sou tonto para deixar que se meta o nome do PSD comprometido com esses ingleses, só porque pessoas do PSD colaboram nesse Diário". Mais palavras para quê quanto a mais uma contradição?
Luís Filipe Malheiro é outro dos social-democratas a pegar no caso. No seu blogue aborda o que denomina “alegada ‘proibição’ de Alberto João Jardim”. E faz perguntas, por sinal, eloquentes do estado a que o PSD-M chegou.
“- Mas afinal, será que os visados não passam de “carneiros” que se limitam a cumprir todas as instruções que lhes são dadas e depois, pela surdina, continuam a fazer o que sempre fizeram, que é bufar ao DN local, por entrepostas pessoas tudo o que se passa?
- Uma pergunta mais intrigante: já agora, serás que foi mesmo Alberto João Jardim, que sempre defendeu a utilidade de uma situação contrária, a ter essa ideia e dar essas instruções, ou limitou-se a recomendar (estou a vontade porque nem estava presente nessa reunião da Comissão Política do PSD por impedimento pessoal) oi que lhe foi recomendado por terceiro?
- E que tal um desafio: quem terá sido o “mentor”, se preferirem o “sugestor” dessa decisão, ainda nem as eleições de 5 der Junho se tinham realizado?
- Finalmente se o problema para alguns é o de escrever ou deixar de escrever no DN do Funchal, porque razão falam no processo de elaboração das listas de candidatos a deputados, misturando alhos com bugalhos? Afinal estamos a falar de quê? De interesse pessoal pelo tacho em detrimento da solidariedade política e pessoal ou de mais um exemplo de hipocrisia e da mesquinhez? Fiquemos (por ora…) por aqui.”
Estamos de facto mais esclarecidos sobre tudo o que se passa no PSD-M ainda com Jardim a mandar. Mas convinha que não se ficassem por onde lhes dá mais jeito. Sejam consequentes e contem tudo. Talvez assim possamos saber mais sobre as solidariedades repentinas ou de quem delas pode vir a precisar não tarda nada, a julgar pelos comentários gerados pelas notícias publicadas a este respeito em vários meios.
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