terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Dn- Carta do Leitor- todos têm direito à sua opinião

O Lobby Médico

 
M. Pedro Freitas
Depois de ler o extracto da intervenção da Dra. Sara André, na Assembleia Regional, sob o título "Governos estão Reféns dos Médicos" a minha primeira reacção foi dar os parabéns pela coragem demonstrada em atacar os médicos, um lobby de marginais e de criminosos. Apesar de ser uma deputada da maioria que suporta o Governo Regional, conseguiu aquilo que a oposição tem vindo a fazer, sem qualquer sucesso: colocar em causa a política de saúde do seu governo na Região e destruir todos os esforços que a Secretaria Regional dos Assuntos Sociais tem feito no sentido de cativar os  seus funcionários para uma nova filosofia em termos de cuidados de saúde.
Num período de contenção de despesas, para quê alimentar e gastar o dinheiro, que é de todos nós, com os deputados da oposição, se um único pode fazer o trabalhinho.
Substituam-se já estes "inúteis" pela Sra. deputada Sara André e  poupar-se-iam milhares de euros em vencimentos, em viagens, em ajudas de custo, em despesas de representação e em subvenções vitalícias, etc. etc.
Todo este bla-blá seria normal se o escriba deste texto não fosse médico, um médico que não reconhece à Sra deputada o direito de lapidar toda uma 
classe de prestadores de saúde que, na sua esmagadora maioria, faz o melhor que pode e sabe, e com o maior profissionalismo. Se são baldas, incumpridores de horários, certamente que têm na classe política a que a Sra. deputada pertence os melhores exemplos. Mas mesmo assim conseguem ser mais baratos: fazem um trabalho útil e de grande responsabilidade; não têm férias de Verão, de Natal ou Pascoa, nem nos restantes meses trabalham um dia de vez em quando; o seu vencimento base é inferior ao dos deputados; não recebem subvenções vitalícias após 12 anos de trabalho; não recebem do erário público dividendos para despesas de representação, nem viagens.
Perante as afirmações da senhora deputada permita-lhe dizer que as minhas cinco décadas e meia de vida ensinaram-me muita coisa e uma delas foi ter um 
espelho em casa, ainda que de má qualidade e comprado na loja do chinês.
Apesar de ser médico especialista, com 27 anos de actividade profissional (se fosse deputado já estaria reformado há 15 anos), com horário de 35 
horas e com fama de ganhar muito dinheiro, o montante correspondente à minha categoria profissional estipulado não pelo lobby dos médicos mas pelo seu, é de 2.600 euros, o que é muito inferior ao da Sra. deputada.
Se a Sra. Deputada tivesse um espelho em casa e se colocasse à sua frente veria que o lobby dos políticos a que pertence é mais poderoso que o dos médicos; veria que é ele que define os seus próprios vencimentos; veria que foi o lobby dos políticos a que a Sra. deputada pertence que reduziu pensões de reforma, que retirou abonos de família, mas manteve os seus privilégios - manteve a subvenção vitalícia a que a Sra. deputada e seu lobby terá direito após 12 anos de "árduos" trabalhos, a que se  juntará uma segunda reforma derivada da sua profissão. É curioso verificar que, nesta questão, todo o lobby político, desde a direita à esquerda, se uniu. Que se lixe o povo!
Se, em vez de um espelho de má qualidade, utilizasse um de marca, a Sra. deputada conseguiria também ver eventuais negócios promíscuos, ou negociatas, em que a sua classe anda metida e que certamente nem de longe se comparam ao do lobby médicos.
Ainda que acredite que as declarações da Sra. Deputada Sara André tenham sido feitas a título individual para denegrir a imagem dos médicos não posso deixar de lamentar os reflexos negativos que suas palavras podem ter na motivação destes prestadores de cuidados no Serviço Regional de Saúde.
A propósito da promiscuidade do lobby médico com a industria farmaceutica, julgo que o problema poderá ser ultrapassado se o lobby a que pertence der umas dicas ao meu, relativamente à forma como, ao vencimento dos médicos, pode ser associada uma taxa fixa para despesas de representação ou de formação, umas viagens e uma subvenção vitalícia. Desta forma, escusaria de, tal como fazem os meus colegas e como fiz há dias, sugerir a um  laboratório que me pagasse a realização de um curso de uma semana em  Lisboa, por forma a melhorar a minha prestação de cuidados no hospital.
Desculpem-me os políticos sérios, por misturá-los todos no mesmo saco, mas  os médicos também o foram no discurso de uma das vossas confrades.

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Comentários

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Pois, aqui vai uma discussão entre lobies. Os Caros senhores Drs ficaram incomodados com a realidade que a deputada fala. Normalmente não estão habituados a serem incomodados. Além dos lobbies que a classe politica têm e isso não se pode discutir, aqui faz-se com que o parente pobre seja os Srs DR,mt certamente mal pagos, com uns miseros 1600 euros. Então vamos a contas, acrescentamos aos 1600 um subsidio ridiculo de fixação de 700 euros e não nos esquecemos de em média 6000 euros de horas extraordinárias, ou seja,quase 1000 euros por cada 24h de serviço em que nessas 24 horas apenas colocam os pés no hospital cerca de 3 ou 4 horas e muitas vezes é durante a noite que é apenas para dormir. Nãonos esquecemos que enquanto recebem as horas extraordinárias estão na privada a dar consultas. Em cada 10 m por consulta ganham 55 euros e se o utente pedir para ser encaminhado para o hospitalo grande Sr Dr fica ofendido. "Se precisa de uma prótese joelho, anca. tirar a prostata,tirar a tiroide, cirurgia as varizes, cataratas...é melhor colocar na clinica".,Masna alta não se esqueça depassar o cheque na ordem dos 6000 euros. Como ainda não basta já agora leva uma receita e em baixo o grande Sr Dr assina " nãoautorizo o fornecimento de genéricos" devido a efectividade terapêutica. Resumindo, 20 000 mensais leva o grande Sr DR, masnãopodemos abrir o bico porque cai o mundo e trindade...Pelomenos alguem teve a coragem de falar...

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